TEXTURAS COMO FONTE DE INSPIRAÇÃO PARA CRIAÇÃO DE ESTAMPAS

Wagner Campelo é jurado do Prêmio Estampa Brasil e fez esse post inspirador sobre texturas na criação de estampas! Você pode acompanhar as publicações de Wagner no seu blog pessoal http://padronagens.wordpress.com/

Abaixo segue o texto na íntegra.

No ano passado, durante as aulas de Projeto de Estampas, da Pós-Graduação em Design de Estamparia do SENAI-CETIQT, três empresas tutoras forneceram briefings para que os alunos desenvolvessem propostas visando atender às diferentes solicitações. A intenção desta disciplina era proporcionar o contato direto dos alunos com o cliente, o mercado, suas necessidades e estratégias. Acabei escolhendo a Kalimo, pois achei a proposta deles mais ampla e atrativa, o que me permitiria maior liberdade em termos criativos.
Depois de visitar o escritório e o showroom da empresa, e também de constatar que o acervo deles já possuía toda a sorte de padronagens, de acordo com o briefing, optei por explorar diferentes texturas na mini-coleção de quatro estampas para outono-inverno que eu deveria criar.

O primeiro passo foi fazer uma pesquisa sobre as texturas que poderiam servir ao meu propósito. Fiz várias consultas não apenas à Internet em busca de imagens, mas também no acervo pessoal que venho construindo desde 2005. Como eu imaginava, encontrei uma quantidade absurda de fotos bastante inspiradoras. Selecionei todas as imagens que me agradaram a princípio, e depois fiz uma nova e rigorosa seleção a fim de criar o painel inspiracional — que pode ser visto abaixo.

Em relação às texturas, considerei principalmente a possibilidade de explorar os relevos, volumes e tramas. Assim, corais estilizados e elementos marinhos; rugosidades, fissuras, craquelados, descascados e calçamentos de pedra; justaposição de fios, rendas e flores feitas com fechos se constituíram na síntese da minha pesquisa e fonte de inspiração para a criação das padronagens.

Por uma questão de espaço, vou considerar neste post apenas uma das quatro estampas desenvolvidas para minha proposta de outono-inverno.

A fotografia da textura rugosa de um tronco de árvore, fotografado por mim no jardim botânico do Rio, serviu como fonte de inspiração para a criação de uma estampa na qual eu pretendia explorar relevos, volumes, sinuosidades, claro-escuro… tirando partido do aspecto orgânico evidenciado pela imagem.

Em se tratando de estampas para o segmento moda, achei por bem — no caso deste desenho em especial — não ser demasiado literal em relação à referência. Deste modo, a foto da textura do tronco de árvore funcionou apenas para que eu fizesse uma livre interpretação a partir dela. No primeiro esboço, feito com caneta esferográfica sobre papel branco, procurei criar com linhas onduladas verticais e traços curvos horizontais a sensação de alternância e volume. Assim, nos trechos mais finos as linhas horizontais ficariam mais próximas, sugerindo profundidade, e os trechos mais largos, com menos linhas, dariam a impressão oposta. Nem sempre gosto ou aproveito um esboço inicial, mas neste caso a ideia me agradou desde o primeiro rascunho.

Fiz novos esboços usando diferentes tipos de canetas sobre papel vegetal, e experimentei remover as linhas sinuosas verticais — resultado que me agradou ainda mais. Constatei que as linhas ondulantes, além de desnecessárias, acabavam demarcando demais o desenho. Livre dessas linhas ele ficou mais solto e leve, preservando as características de sinuosidade e volume.

Novos esboços, desta vez feitos com lapiseira e hidrocor de ponta fina. O resultado do desenho feito a lápis foi o que me agradou mais, pois o grafite permite uma “maleabilidade” e sutileza que não consegui obter com os outros materiais. Entretanto, como eu estava pensando em escanear o desenho feito à mão-livre para manipulá-lo diretamente no Photoshop, achei que na hora de elaborar o “desenho definitivo” eu teria de usar algo mais intenso (menos claro) do que o grafite da lapiseira.

Tendo decidido de que forma seria feito o desenho, o passo seguinte foi determinar o tamanho do módulo de repetição. Como o briefing estabelecia que as estampas deveriam ser impressas através do processo rotativo (cilindros), considerei adequado o desenho se repetir na vertical a cada 32 cm (submúltiplo de 64 cm), fazendo uso do sistema de repetição linear. Contudo, como meu scanner digitaliza apenas no formato A4 — e eu não pretendia escanear por partes, já que o encaixe pode não ser muito simples — resolvi fazer o módulo num tamanho menor e ampliá-lo durante o escaneamento (aumentando a resolução). Para tanto, tracei com caneta de retroprojetor sobre uma folha de papel vegetal (A4) um módulo medindo 22 cm x 18 cm. Na verdade, este tamanho, totalmente aleatório, visou apenas aproveitar ao máximo o tamanho A4. Uma vez que eu desenharia à mão-livre, a fim de facilitar meu trabalho e evitar erros, tracei, com a lapiseira, as linhas sinuosas que me serviriam de guia.

O traçado do módulo feito no papel vegetal facilitou o ajuste das emendas em relação à base e ao topo e também nas laterais. É claro que eu sabia que desenhando à mão-livre seria impossível obter um encaixe perfeito, porém quanto mais precisas fossem as guias, menos trabalho eu teria posteriormente quando tivesse de fazer os acertos definitivos no Photoshop.
Tendo desenhado as linhas sinuosas à lápis, foi simples fazer com que coincidissem nas extremidades do módulo usando a borracha e refazendo as linhas desencontradas. Para tanto, bastou dobrar o módulo sobre ele mesmo (na vertical e na horizontal) observando o encaixe das cruzetas de cada quina — como pode ser visto no detalhe abaixo.

Com as cruzetas perfeitamente alinhadas, e o auxílio da transparência do papel vegetal, é possível observar o encaixe dos elementos presentes nas extremidades do módulo — as linhas sinuosas que me serviriam de guia, neste caso.

A primeira tentativa de desenho foi feita com a caneta esferográfica. Posicionei outra folha de papel vegetal sobre o módulo com as guias e desenhei os traços curvos procurando manter o mesmo ritmo e pressão — o que não foi nada fácil devido à área relativamente grande. Evidentemente, eu poderia ter feito um módulo menor, mas como eu não queria que a repetição fosse facilmente percebida acreditei que ela ficaria mais “disfarçada” num módulo maior — ainda que o padrão não variasse muito. O resultado não me agradou por dois motivos: as linhas ficaram demasiado finas e alguns borrões de excesso de tinta se formaram em certos pontos.

Na segunda tentativa, pensei em usar a caneta hidrocor, mas num pequeno teste verifiquei que ela demorava a secar e borrava quando eu dava prosseguimento ao desenho — que não devia ser interrompido até que fosse inteiramente concluído. Assim, usei a caneta de retroprojetor, já que a tinta seca instantaneamente. Mas o resultado me agradou ainda menos: os traços ficaram grossos demais e bem menos regulares do que eu gostaria.

Acabei recorrendo ao grafite (0.7mm), já que nos esboços ele mostrou o resultado mais satisfatório. De fato, foi bem mais fácil manter a regularidade dos traços usando a lapiseira.

Alguns traços ficaram finos e claros, mas eu poderia usar o brilho e contraste no Photoshop para intensificar o desenho. Eu imaginava que neste ajuste algumas linhas desaparecessem e outras se unissem, mas, dependendo da graduação, esse resultado poderia até vir a calhar.

Escaneei o desenho com a resolução de 500 dpi, e isso fez com ele ficasse maior do que o tamanho original, considerando-se que a resolução do arquivo final seria de 300 dpi. Com o desenho ampliado eu teria como reduzi-lo até os 32 cm de altura necessários para que a estampa se repetisse adequadamente no processo de impressão por cilindros. Acima, à esquerda, o desenho original escaneado. À direita, o mesmo desenho com os ajustes de brilho e contraste. No caso desta estampa, o ideal era conseguir nesta fase um desenho apenas em preto e branco, sem nenhuma gradação de cinza.

A fim de obter um “traço” que eu pudesse destacar do fundo com facilidade, apliquei na imagem tratada do desenho o filtro Stamp (Filter > Sketch > Stamp), fazendo os devidos ajustes em Light/Dark Balance e Smothness. O resultado deste efeito pode ser visto acima. O desenho ficou mais “limpo” e adequado a ser isolado do fundo. Somente depois da aplicação do filtro ajustei o encaixe do módulo de repetição.

Antes de prosseguir com a seqüência do passo-a-passo — que envolverá a aplicação de cores —, devo dizer que recebemos do cliente uma cartela com amostras das cores da coleção outono-inverno em tecido. Fomos informados que, se quiséssemos, poderíamos acrescentar à cartela as cores dispostas no catálogo do site da empresa.

Escaneei a cartela com as amostras de tecido a fim de obter as cores virtuais, capturadas através do Photoshop. A essas tonalidades acrescentei as cores da cartela disposta no site e construí uma nova paleta mais ampla em termos cromáticos. No caso dos estudos de cor eu sempre acho melhor ter muitas opções de escolha. Assim, em vez de apenas 24 cores da cartela física, eu teria a possibilidade de explorar 70 tonalidades diferentes.

Fiz esta interrupção, pois como geralmente uso nos estudos iniciais as cores da cartela eu precisava dizer de onde vinham as tonalidades que usarei a seguir.

De volta ao Photoshop e ao “traço” do desenho… Destacando-o do fundo, pintei-o com uma cor escura. Minha intenção era “preencher” os espaços sinuosos verticais evidenciados pelas linhas para dar a impressão de volume no sentido horizontal. O briefing estabelecia que fossem usadas no máximo cinco cores por estampa, e eu pretendia utilizar neste desenho apenas quatro.

Pintei o fundo (numa camada separada do “traço”) com uma tonalidade que seria a mais clara em termos de luminosidade.

Em seguida, numa terceira camada (layer) pintei faixas seguindo as sinuosidades com uma cor que seria intermediária entre e mais clara e a mais escura. Usei um dos pincéis com efeito de aquarela para que o resultado não ficasse muito “duro”.

Sempre usando o “traço” como orientação, numa quarta camada, pintei as partes que deveriam corresponder à região de sombra com uma cor mais escura.

Acima, o resultado das três camadas pintadas sem o “traço” usado como guia. Embora eu tenha tido o cuidado de pintar o mais regularmente possível, tendo feito esse procedimento através do pincel operado pelo mouse, o resultado ficou bastante irregular. Mas isso não seria problema, pois eu pretendia usar um filtro que resolveria a questão.

Fiz uma cópia das três camadas pintadas, pois era preciso preservar as originais. Depois de achatá-las (Merge layers), apliquei o filtro Spatter (Filter > Brush Strokes> Spatter), fazendo os ajustes necessários em Spray radius e Smoothness. O resultado foi uma suavização de todo o desenho, criando uma gradação entre as cores — como pode ser visto no detalhe abaixo.

Acho importante fazer uso de qualquer filtro sempre considerando a visualização do desenho no Photoshop em 100%, para evitar que certos detalhes passem despercebidos — ainda que na escala real (impressão) a estampa fique menor.

O resultado final foi um desenho no qual se percebem volumes não apenas no sentido vertical (através do “traço” que se comprime e se expande), bem como na horizontal (através da gradação das cores que simulam claro-escuro).

Satisfeito com o resultado, comecei a fazer os estudos de cor. O único “inconveniente” no caso desta estampa é que eu só podia aplicar o filtro Spatter depois de ter achatado as camadas — por isso era importante preservar as originais e fazer cópias sempre que um novo estudo fosse experimentado. Acima, uma versão usando cores mais intensas com o “traço” colorido numa tonalidade média.

Outro estudo usando tonalidades frias e invertendo a posição da luminosidade. O ideal para preservar a sensação de volume nesta estampa é sempre usar uma sequência de cores indo do tom mais claro ao mais escuro, mas isso não significa que não se possa inverter esta ordem — desde que a cor intermediária fique sempre no centro.

Mais um estudo usando as cores do primeiro teste, apenas modificando a tonalidade do “traço”.

Eu precisaria apresentar, além da estampa original, duas variantes de cor. Assim, depois de vários estudos, acabei escolhendo as três opções mostradas acima.

Como eu teria de apresentar o Projeto de Estampas impresso em papel e montado em pranchas, fiz algumas impressões (usando papel matte de alta resolução) a fim de verificar o resultado. Uma vez que as pranchas teriam o formato A3 eu poderia usar os serviços de um bureau de impressão. Mas eu não queria correr o risco de ver as cores totalmente alteradas quando impressas a laser com o característico aspecto lustroso (que tanto me desagrada). Então, resolvi eu mesmo fazer as impressões, já que poderia controlar mais satisfatoriamente os resultados. Para tanto, eu teria de unir lado a lado duas impressões feitas em A4, uma vez que minha impressora não imprime em grandes formatos.
A versão em tons de vermelho ficou muito diferente do que se via em tela, e mesmo eu alterando o modo do arquivo de RGB para CMYK não obtive um resultado que me agradasse. Assim, precisei fazer uma nova versão usando as cores da cartela em tonalidades mais escuras — como pode ser visto abaixo, na prancha elaborada para a apresentação.

Para montar a prancha, imprimi a estampa maior, e suas respectivas amostras de cor, numa folha de papel matte A4. Em outra folha, imprimi as duas variantes. Numa terceira folha imprimi a modelo com a roupa na qual eu havia aplicado a estampa para mostrar suas dimensões em relação à escala humana. Colei lado a lado as duas folhas com as estampas e, para ocultar a emenda, colei sobre ela a modelo devidamente recortada em volta do contorno branco.

Veja as outras estampas desenvolvidas para este projeto, bem como imagens da exposição dos trabalhos da turma, no link a seguir:

http://padronagens.wordpress.com/2010/11/25/projeto-de-estampas/

Archist, Prédio de Artistas

Não seria incrível se artistas também fossem arquitetos? Foi isso que o ilustrador catalão Federico Babina pensou na hora de criar sua série “Archist” que cria prédios inspirados no estilo de diversos artistas modernos e contemporâneos.

Será que seu artista favorito está entre eles? Confira abaixo!

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Você conhece a Tugboat Printshop e suas obras gravadas à mão sobre madeira?

Paul Roden e Valerie Lueth são dois artistas americanos que trabalham com xilogravura. Eles esculpem desenhos na madeira para depois carimbá-los sobre papel. O trabalho é minucioso e superdetalhado. “É nossa esperança que nossas impressões proporcionem prazer e inspirem novas maneiras de pensar sobre o nosso mundo.” Dizem eles. Imagem Imagem Imagem Imagem

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